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2018 | Galería Azur – O Mar

EXPOS / GALERÍA AZUR

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Possiveis futuros

 

Os backlights de Horacio Inchausti desafiam os limites de um meio tradicionalmente concebido como o registro melancólico do que já aconteceu. Isso não implica que este artista renuncie ao passado, mas retorne a ele para poder explorar as origens líquidas da fotografia de quando era necessário algo mais que um clique. Mas suas fotos, além de imagens, são objetos cuja materialidade se refere ao tipo de pesquisa que, nas últimas três décadas, fotógrafos modernistas como Jeff Wall, Andrea Gursky ou Thomas Demand realizaram para colocar a fotografia à altura da pintura e escultura minimalistas nos principais museus e galerias do sistema global de arte. Sem dúvida, os backlights de Inchausti podem ser lidos neste código. Contudo, há algo que diferencia sua prática da fria cerebralidade de seus colegas do Norte e é a maneira pela qual a memória de sua própria vida no Rio de Janeiro é visualmente desintegrada em partículas para ser materialmente atomizada por suportes metálicos de luz, cuja produção não foi terceirizada, mas concebida como parte fundamental do processo artístico. Assim, os granulados de suas imagens navegam pela linearidade do presente para fazer explodir pelo ar (atomizar?) o niilismo modernista, transformando-o em algo mais produtivo, pessoal e esperançoso. Na maturidade de sua vida, Inchausti fabrica objetos que, no processo de feitura, constituem uma experiência passada que só pode ser concebida como uma chave para possíveis futuros.

Rodrigo Cañete

O Mar, obra de Horacio Inchausti em Pinholes

Por Maria Pichot – 8 de setembro de 2019 en LEEDOR.COM

Para Horacio Inchausti, a contemplação do Mar de Copacabana é um ritual de todas as manhãs de quando se vive no Rio.
O olhar do artista se apoia e descansa sobre as linhas horizontais que formam o mar, a praia e o céu e é sustentado no tempo contemplando “O MAR” em seu constante ir e vir, refletido e modificado pela luz do sol que lhe dá cor e forma ao seu movimento.
A contemplação é um estado que ocorre apenas no tempo, e a possibilidade de representá-lo visualmente é o desafio que Horacio Inchausti assume, um desafio à instantaneidade na fotografia habitual. Mais ainda, se trata de dar conta de uma imagem do mar em constante movimento.
No entanto, este desafio não foi um impedimento para o artista, foi uma oportunidade. Nesses trabalhos fotográficos, Inchausti usa a técnica de pinhole e destaca a questão do tempo na contemplação, prolongando a exposição sobre um objeto, neste caso, tão inconstante quanto o mar.
Produz uma “ruptura da indexicalidade, como consequência da transgressão entre a fotografia em si e o mundo real que a origina, sem atingir a dissolução total do índice, uma vez que segue reconhecendo o objeto mar”, diz o artista, que investigou o uso da cor e da fisicalidade do material escolhido para a criação de sua obra.
Assim, essas imagens são exibidas em caixas de luz – os backlights , objetos corpóreos, materiais que ocupam o espaço tridimensionalmente. Os backlights são caixas volumétricas iluminadas por luz artificial em seu interior, dando suporte ao que pode ser visto na imagem e, então, fechando o ciclo evolutivo da obra.
A materialidade das caixas de luz confere estabilidade às imagens que emolduram e dialogam efetivamente com elas, que, despidas de referências humanas ou urbanas, se tornaram líquidas, refletindo a metáfora da liquidez no sentido que Zygmunt Bauman dá a esse conceito.
Inchausti produziu manualmente e artesanalmente cada um dos blacklights, aproveitando sua experiência como escultor e integrando várias abordagens na elaboração e precisão de sua obra.
Assim como Walter Gropius definiu a tarefa do artista nos dias da Bauhaus:
«Arquitetos, escultores, pintores, … precisamos voltar ao trabalho manual … Vamos estabelecer, portanto, uma nova irmandade de artesãos, livre dessa arrogância que divide as classes sociais e procura erguer uma barreira intransitável entre artesãos e artistas. »
Assim, Horacio Inchausti assume a tarefa da arte na realização de sua obras.